Luís Osório




ÉS UM VESTIDO

Quase parece um vestido.
Se o fosse, imaginá-lo-ia num cabide branco, em espera.
Inventaria então o mais brutal dos desejos: o de um corpo o poder habitar sem asfixiar de realidade.

No fundo dos fundos há uma porta invisível. Saberei reconhecê-la porque nenhuma outra é igual. Não a vejo, imagino-a como uma palavra de um alfabeto privado.

A porta invisível que mais parece um vestido creme, em espera.

Sigo em frente. Ficarei cego para o conseguir ver. Um preço leve, quase nada. Um vestido que é uma porta de utopia, um desejo de liberdade que não é a liberdade, é outra coisa. Deixar de ver para ver. Um leve preço, quase nada.

Não sinto o que toco. Mas toco.
Parece ser a que sonhei.
Como se fosse possível o impossível. Como se no fundo dos fundos de mim, ela existisse.

Ela.
Uma porta.
Que é um vestido.
Que é um cabide dentro de uma palavra por existir.
Uma liberdade que não é liberdade, é mais.
Que é tudo. Um amor sem tédio ou passado. Apenas isso e tudo isso.

Quase parece um vestido dentro de uma porta.
Um vestido que me espera com uma palavra nova, nunca ouvida.
Uma palavra que será nossa.

Para sempre.

Mesmo que o sempre seja um breve hoje, seguirei.

Para dentro do vestido que imagino.
Para dentro dela.
No interior da utopia.
Agora que não vejo, vejo-a.
Entro.
Fico em espera.

À espera que perca a visão para me ver.
Seremos então o vestido. E descansaremos.

Texto : Luís Osório
Fotografia : Estelle Valente 

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