ÉS UM VESTIDO
Quase parece um vestido.
Se o fosse, imaginá-lo-ia
num cabide branco, em espera.
Inventaria então o mais
brutal dos desejos: o de um corpo o poder habitar sem asfixiar de realidade.
No fundo dos fundos há uma
porta invisível. Saberei reconhecê-la porque nenhuma outra é igual. Não a vejo,
imagino-a como uma palavra de um alfabeto privado.
A porta invisível que mais
parece um vestido creme, em espera.
Sigo em frente. Ficarei
cego para o conseguir ver. Um preço leve, quase nada. Um vestido que é uma
porta de utopia, um desejo de liberdade que não é a liberdade, é outra coisa.
Deixar de ver para ver. Um leve preço, quase nada.
Não sinto o que toco. Mas
toco.
Parece ser a que sonhei.
Como se fosse possível o
impossível. Como se no fundo dos fundos de mim, ela existisse.
Ela.
Uma porta.
Que é um vestido.
Que é um cabide dentro de
uma palavra por existir.
Uma liberdade que não é
liberdade, é mais.
Que é tudo. Um amor sem
tédio ou passado. Apenas isso e tudo isso.
Quase parece um vestido
dentro de uma porta.
Um vestido que me espera
com uma palavra nova, nunca ouvida.
Uma palavra que será
nossa.
Para sempre.
Mesmo que o sempre seja um
breve hoje, seguirei.
Para dentro do vestido que
imagino.
Para dentro dela.
No interior da utopia.
Agora que não vejo,
vejo-a.
Entro.
Fico em espera.
À espera que perca a visão
para me ver.
Seremos então o vestido. E
descansaremos.
Texto : Luís Osório
Fotografia : Estelle Valente
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