ANTES DE SAIR DE CASA DEIXO SEMPRE A
ALIANÇA NA PRIMEIRA GAVETA DA CÓMODA
Nadja sou eu
aqui do ponto em que me encontro
já ensaiei várias definições para
divino
«depois queimo tudo e prossigo a
minha busca»
mais tarde usarei aquela que diz que
o divino é uma reta sem som
um ponto negro sem fim que une todos
os universos alternativos e paralelos a
todas as memórias bem e mal-arrumadas
usá-la-ei como sinónimo de
Aleph e antónimo de corpo humano
de mente humana
Nadja é o ponto potencial
o vitral que separa o dentro e o fora
em losangos de muitas cores
é todas as cores potenciadas pelas
luzes que vêm de dentro
pelas luzes que vêm de fora
Nadja podia ser aquele Raul que
emigrou por amor
e cuja história ainda está por
escrever
mas o amor não lhe é um movimento de
saída
nem deslocação
é-lhe o destino de um par de versos
que repete até ao cansaço
meu amor,
não esperes por mim,
que eu posso/devo demorar
encontro-te depois,
quando quiser/precisar de descansar
Em casa também ensaio a ideia da
minha morte
visto-me de luto, sento-me no sofá
que dá para a porta da rua e pergunto:
o que terá Nadja de ter deixado
feito?
mas distraio-me com a campainha do
elétrico e saio de casa apressada e sem ter
respondido ao fim da pergunta
do ponto em que me encontro
em cima das linhas dos carris
grito para dentro:
que se foda saber de Nadja até ao fim
eu vou saber de Nadja pelo boca-a-boca
pelo mão-na-mão
pelo corpo-a-corpo
pelo tête-à-tête
pelo mano-a-mano
Texto : Marta Navarro
Fotografia : Estelle Valente
~ 2 commentaires: ~
at: 10 de abril de 2013 às 05:23 disse...
maravilhoso. gostarias de ler os meus? cassiopeianablogosfera.blogspot.com (ou .pt?...)
at: 12 de abril de 2016 às 03:51 disse...
ahhhhhhhh!!!! que desbunde, marta!
e que foto, Estelle!
que blogue, que projeto! feliz em participar também! :)
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